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O acidente não foi culpa só do Motorista: Uma reflexão sobre Liderança e Segurança Rodoviária

Poderia iniciar este artigo explorando conceitos de liderança servidora, participativa ou transformacional. São todos importantes, especialmente em empresas que operam com riscos consideráveis, como transportadoras.

Mas, em vez de partir da teoria, quero começar com perguntas. Perguntas que líderes de empresas de transporte deveriam se fazer com frequência:

1. Quais sinais de alerta posso não estar enxergando? Meus colaboradores se sentem à vontade para reportar riscos sem medo de punição?
2. Minhas atitudes diárias comunicam, de forma clara, que a segurança está acima dos resultados imediatos?
3. Que práticas silenciosas, já normalizadas, podem estar colocando vidas em risco? Como posso liderar a mudança?

Essas perguntas são especialmente relevantes quando olhamos com honestidade para a cultura que construímos nas nossas organizações. Para ilustrar, compartilho um caso fictício, mas muito plausível, que foi construído exatamente com o objetivo de provocar reflexão.

O Acidente que Poderia Ter Sido Evitado: Uma História para Refletir

Era uma quinta-feira, véspera de feriado. Uma família — pai (30 anos), mãe (28) e um filho de 2 anos — seguia animada para visitar parentes no interior. Era a primeira viagem do pequeno para conhecer tios e primos.

Na mesma rodovia, José, caminhoneiro experiente, com 17 anos de profissão, dirigia rumo a uma entrega de alimentos em uma cidade próxima. O trânsito começou a parar nas imediações de uma praça de pedágio.

Enquanto se aproximava da fila de veículos, José trocava mensagens com o analista de programação da transportadora. Ele estava atualizando o status da entrega, que já estava atrasada. A distração durou segundos — tempo suficiente para que José não percebesse o tráfego parado à frente.

Imagem gerada por IA Generetiva: Perplexity + Recraft

O caminhão colidiu com força na traseira do carro da família, que foi esmagado entre dois veículos. José não teve ferimentos, mas a família à frente sofreu graves consequências.

A cena seguiu o roteiro conhecido: bombeiros, SAMU, perícia, imprensa, cobertura negativa, prisão do motorista, exposição da marca da empresa. Dias depois, José foi solto, mas responderia judicialmente por dolo eventual. A única medida adotada pela empresa: sua demissão sumária.

O Que a Investigação Apontou (ainda que seja uma história fictícia)?

1. O motorista trocava mensagens com um analista da empresa para atualizar uma entrega — algo habitual no dia a dia;

2. Apesar de contar com torre de controle e sistemas de rastreamento, a empresa não havia integrado esses recursos à rotina da equipe, que preferia resolver tudo via celular;

3. O gestor dos programadores já havia notado essa prática, mas nunca orientou ou proibiu expressamente;

4. O CEO da empresa, frequentemente, também falava ao celular enquanto dirigia, passando uma mensagem ambígua para a equipe;

5. Após o acidente, não houve investigação profunda nem ações estruturantes de prevenção — apenas a demissão do motorista.

Mas Espera: Essa História Não Aconteceu.

Essa história é fictícia, mas construída com base em padrões e ocorrências reais do dia a dia do transporte rodoviário no Brasil.

Ela não relata um evento específico, mas reúne elementos que se repetem com frequência alarmante:

· Comunicação informal e insegura;

· Falta de integração de tecnologias já disponíveis;

· Ausência de posicionamento firme da liderança;

· Cultura permissiva ou omissa em relação a riscos.

Se você achou que a história era verdadeira, é porque ela poderia muito bem ser. E justamente por isso, ela nos convida à seguinte pergunta:

E Se Essa História Acontecesse na Sua Empresa?

Não basta exigir prudência dos motoristas se o restante da empresa não respira segurança.

Cultura se constrói com coerência. Se um CEO fala ao celular dirigindo, se um gestor ignora más práticas, se as ferramentas existem, mas ninguém é treinado para usá-las, a empresa está comunicando que o risco é tolerado.

Demissões após tragédias não são solução. São reação.

Prevenção começa antes, e começa na liderança.

O Que Uma Liderança Consciente Poderia Fazer Diferente?

· Implantar e usar sistemas de monitoramento efetivos, eliminando a necessidade de contato por celular com motoristas em trânsito;

· Treinar e integrar todas as áreas, mostrando que segurança é responsabilidade de todos — da garagem ao escritório;

· Criar canais de comunicação abertos e seguros, onde riscos operacionais possam ser discutidos sem medo;

· Adotar uma postura exemplar na alta liderança, onde os comportamentos seguros são vividos, não apenas cobrados;

· Revisar hábitos normalizados, mas que, no fundo, são perigosos.

Imagem gerada por IA Generetiva: Perplexity + Recraft

Conclusão: A Mudança Está no Volante da Liderança

Transportadoras que querem operar com segurança, confiança e credibilidade precisam mais do que normas técnicas: precisam de líderes conscientes, participativos e exemplares.

A boa notícia é que a mudança é possível — e começa com uma decisão.

Decisão de enxergar o todo. De assumir responsabilidade. De agir com coerência.

Que outras perguntas você, como líder, tem se feito sobre segurança? Compartilhe nos comentários — sua experiência pode inspirar outros.

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Tibério Pereira
Consultor em Road Safety, SSMA e Logística | Redução de Sinistralidade e Custos Operacionais | Experiência em Esso, Cosan, Raízen | Implantação de Inovação em Grandes Embarcadores e Transportadoras


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