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Resumo: O artigo revela que os acidentes envolvendo motocicletas geraram uma crise de saúde pública e financeira no Brasil, classificada como inaceitável, com um prejuízo econômico e social estimado em R$ 300 bilhões por ano, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). O cenário é crítico para o Sistema Único de Saúde (SUS), onde sinistros com veículos de duas rodas representam 66% de todos os casos de trauma atendidos, sobrecarregando hospitais. Essa sobrecarga afeta a população economicamente ativa (43,2% das vítimas entre 20 e 29 anos) e causa um efeito cascata no sistema, sendo responsável por 50% dos cancelamentos de cirurgias eletivas. Além disso, as vítimas enfrentam longos tempos de espera (média de 7 dias por cirurgia) e sofrem com sequelas graves e complexas, como dor crônica (82,1%) e amputações (35,8%). Em resposta, a SBOT lançou a campanha “Na moto não mate, não morra” e sugere medidas como facilitar a CNH (já que 50% das vítimas não a possuem) e intensificar campanhas educativas.

A crise de saúde pública e financeira gerada pelos traumas envolvendo ocupantes de motocicletas – condutores e, agora, depois do Uber e 99 Moto, também passageiros – atingiu um patamar classificado como inaceitável pelos médicos ortopedistas e traumatologistas no Brasil. Uma pesquisa divulgada no dia 18/9 pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), em parceria com o Instituto Informa, revelou que os sinistros de trânsito com veículos de duas rodas impõem um prejuízo econômico e social gigantesco, estimado em R$ 300 bilhões por ano.

O estudo, que mapeou o atendimento em 138 hospitais – incluindo unidades públicas, privadas e filantrópicas em todas as regiões do País –, expôs um cenário crítico no sistema de saúde nacional. A situação está em um nível tão assustador que a Confederação Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) – presente no evento que divulgou a pesquisa da SBOT – afirmou que, para o Sistema Único de Saúde (SUS), nada é mais aterrorizante do que os sinistros de trânsito e, principalmente, os provocados pelas motocicletas”.

A SBOT alerta que o volume massivo de atendimentos está sobrecarregando severamente as unidades hospitalares brasileiras. O presidente da SBOT, Paulo Lobo, confirmou que o cenário é grave. “Marcado por hospitais lotados, profissionais sobrecarregados e recursos escassos. Em média, os hospitais consultados na nossa pesquisa atendem 360 casos de trauma por mês, e a taxa de sinistros de trânsito com motocicletas corresponde a 66% de todos os casos analisados”, revelou.

SOBRECARGA DO SUS ESTÁ ACONTECENDO EM TODO O PAÍS

A sobrecarga hospitalar é generalizada: a pesquisa revela que quase 70% das unidades hospitalares consultadas relataram ter atendido mais de 600 vítimas de trânsito em um período de apenas seis meses. Enquanto a taxa de sinistros com motocicletas domina as estatísticas (66%), o foco nas vítimas, majoritariamente jovens e população economicamente ativa (43,2% entre 20 e 29 anos e 26,3% entre 15 e 19 anos), evidencia o grave impacto na força de trabalho do País.

Essa sobrecarga está tendo um impacto direto na ocupação dos leitos hospitalares. A pesquisa aponta que os sinistros de trânsito com motocicletas têm comprometido a capacidade dos hospitais de oferecerem outros tratamentos. “A sobrecarga massiva de atendimentos de vítimas de trauma gera um efeito cascata que compromete o atendimento eletivo. Metade (50%) dos cancelamentos de cirurgias eletivas ocorre devido à ocupação de vagas por vítimas de sinistros de moto. O cancelamento de procedimentos pode ser drástico: em um serviço específico avaliado, houve o cancelamento de 18 cirurgias eletivas e 7 de emergência por falta de leitos ou recursos”, alerta a SBOT.

E a ocupação dos leitos prolonga-se significativamente. Por mês, são internados cerca de 44 vítimas de sinistros por motocicletas. Mais de 70% desses pacientes permanecem internados por mais de sete dias após a cirurgia. O tempo de espera por procedimentos cirúrgicos também é longo:

  • Em média, os pacientes aguardam 7 dias pela cirurgia e mais 7 dias pela alta.

  • Cerca de 60% dos acidentados aguardam até sete dias por uma cirurgia, enquanto 31,6% chegam a esperar até 15 dias. Alguns casos mais complexos podem demandar até 30 dias de espera.

As principais causas para o cancelamento das cirurgias são, em média, a ausência de vagas no CTI (19,1%) e a ocupação de vagas por vítimas de traumas (19,0%).

O impacto econômico dos sinistros de trânsito resulta em um custo inaceitável que engloba pessoas sem receber salário, o custo com auxílios-doença da previdência social e medicamentos de altos custos. Além disso, a SBOT revelou que este cenário de traumas contribui para a crise de saúde por atingir um nível “inaceitável”.

“O cenário é grave: hospitais lotados, profissionais sobrecarregados e recursos escassos. Além da dor das vítimas e famílias, há um efeito cascata que compromete todo o sistema de saúde, por isso a importância de lançar essa campanha em âmbito nacional, para mobilizar a sociedade, educar condutores e cobrar políticas públicas mais eficazes para um trânsito mais seguro”, alerta o presidente da SBOT, Paulo Lobo.

Em resposta à dimensão da crise — que resultou em 13.521 mortes de motociclistas apenas em 2023 —, a SBOT lançou a campanha nacional de conscientização “Na moto não mate, não morra”.

SEQUELAS GRAVES E LESÕES COMPLEXAS

Outro alerta feito pela SBOT foi sobre as sequelas para os sobreviventes das quedas e colisões com motocicletas, que são severas e resultam em “limitações irreversíveis que afetam diretamente a qualidade de vida”. As regiões do corpo mais atingidas são os membros inferiores (com uma média de 51,4% dos casos), a bacia e a coluna vertebral.

A SBOT aponta que, em média, 6 em cada 10 diagnósticos apresentam mudanças nos tipos das lesões traumáticas em motociclistas e garupas, estando as lesões mais complexas e não se limitando apenas a fraturas simples. As maiores taxas na complexidade das lesões dos pacientes internados e operados estão entre a média e a alta complexidade.

Entre as sequelas mais frequentes em motociclistas, destacam-se:

  • Dor crônica (82,1%)

  • Deformidades (69,5%)*

  • Déficit motor/limitação funcional (67,4%)*

  • Amputações (35,8%)

Entre os fatores de risco agravantes, o consumo de álcool foi identificado em até 50% dos pacientes atendidos em alguns serviços. A SBOT sugere que soluções vão além da fiscalização e incluem propostas como tornar a CNH mais acessível, uma vez que 50% das vítimas não a possuem, e redirecionar subsídios de fabricação de motocicletas para o transporte coletivo. Além disso, mais de 40% dos especialistas consultados indicaram as campanhas educativas como prioridade máxima para a redução dos sinistros.

Você acredita que, diante do cenário de hospitais sobrecarregados, recursos escassos e o custo social e econômico de R$ 300 bilhões/ano, a conscientização por si só é suficiente para reverter a tragédia dos acidentes de moto?

Deixe sua opinião nos comentários — sua visão pode ajudar a pressionar por políticas públicas mais eficazes, um melhor direcionamento de recursos para o transporte coletivo e por um compromisso social que vá além da fiscalização, buscando uma solução que proteja, de fato, a vida dos condutores e passageiros de motocicletas.

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Artigo escrito por Rodrigo VargasPsicólogo, Coach e Neurolinguista, agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC Porto Alegre (Coordenação de Educação para Mobilidade).

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