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Acidentes Rodoviários no Brasil: Um Custo Bilionário e a Oportunidade Única de Transformar a Logística

O Brasil, com sua vasta extensão territorial, depende crucialmente do transporte rodoviário. Mais de 65% de toda a carga movimentada no país utiliza nossas estradas, e o setor contribui com cerca de 6% do PIB nacional. No entanto, essa dependência vem acompanhada de um custo humano e econômico alarmante: os acidentes rodoviários.

Dados de 2024 revelam uma realidade dura: 73.114 sinistros nas rodovias federais, com a trágica marca de 6.153 mortes – uma média de 16 vidas perdidas por dia. O impacto econômico é igualmente devastador, estimado em aproximadamente R$ 16 bilhões, segundo o Painel CNT de acidentes rodoviários 2024.

O que talvez muitos não percebam é a desproporcionalidade do envolvimento dos veículos de carga. Apesar de caminhões e ônibus representarem apenas 4% da frota total em 2024, eles estiveram envolvidos em 20% dos acidentes e, chocantemente, causaram três vezes mais mortes que veículos pequenos nas rodovias federais. Em 2024, esses veículos de grande porte foram responsáveis por mais da metade (53%) das mortes e deixaram mais de 24 mil feridos.

Essa realidade não é apenas uma questão de segurança, mas um desafio estratégico que afeta diretamente a eficiência, a produtividade e a competitividade do nosso setor logístico. Assim como a greve de caminhoneiros de 2018 gerou uma perda estimada de R$ 15 bilhões e uma redução de 0,5% no crescimento do PIB, os acidentes contínuos representam um sangramento financeiro e operacional silencioso, porém massivo.

Os principais fatores que influenciam esses sinistros estão ligados ao comportamento humano, à infraestrutura viária e a fatores ambientais. Reconhecendo essa complexidade, e entendendo onde pode intervir de forma direta, surge uma imensa oportunidade para as transportadoras e o setor logístico transformarem esse cenário. A chave está em uma estratégia multifacetada, atuando em três frentes principais: Pessoas, Processos e Tecnologia.


1. Pessoas: O Coração da Operação

A gestão de pessoas, especialmente motoristas e gestores operacionais, é o pilar mais estratégico para o sucesso de uma transportadora. Uma abordagem bem conduzida não só reduz acidentes, mas impulsiona a eficiência, produtividade e competitividade.

Motoristas como Protagonistas

Motoristas devem ser mais do que condutores; são agentes de valor.

  • Treinamento contínuo e personalizado: Baseado em dados reais de telemetria e videomonitoramento.
  • Feedbacks individuais e construtivos: Focados em comportamento seguro e condução econômica.
  • Reconhecimento de boas práticas: Premiações e campanhas de valorização.
  • Participação em decisões: Incluindo-os em discussões sobre rotas e segurança.
  • Impactos: Redução de sinistros, menor turnover, redução de consumo e manutenção, entregas mais seguras.

Gestores Operacionais como Líderes de Cultura

Gestores operacionais são o elo entre a estratégia e a prática.

  • Capacitação em liderança: Focada em segurança, produtividade e gestão de desempenho.
  • Uso de KPIs: Integração de indicadores de performance e segurança na rotina.
  • Atuação preventiva baseada em dados: Análise de desvios e planos de ação.
  • Gestão por proximidade: Comunicação constante com as equipes.
  • Impactos: Menor número de falhas operacionais, melhor clima organizacional, maior confiabilidade logística.

Integração entre Áreas e Papéis Claros

Motoristas e gestores atuam melhor com clareza de papéis e metas comuns.

  • Definição clara de responsabilidades: Para cada perfil (motorista, gestor, segurança, manutenção).
  • Criação de rituais de gestão: DDSs, reuniões de indicadores, comitês de segurança.
  • Integração de sistemas: Logística, RH, frota, SSMA e comercial falando a mesma língua.
  • Impactos: Menos retrabalho, agilidade nas decisões, aumento da previsibilidade e controle da operação.

2. Processos: A Estrutura da Eficiência

Sem processos bem definidos, o negócio sofre com decisões reativas, retrabalhos, desperdícios e falhas operacionais. A gestão adequada de processos é a espinha dorsal para uma transportadora mais eficiente, segura e rentável.

Mapeamento e Padronização

Reduz erros e aumenta a previsibilidade.

  • Mapear processos críticos: Contratação de frete, expedição, monitoramento, manutenção, gestão de sinistros.
  • Criar fluxogramas simples e operacionais: Com responsáveis, entradas e saídas claras.
  • Benefícios: Diminuição de retrabalho, padronização e facilidade na formação de novos colaboradores.

Redesenho de Fluxos com Foco em Agilidade

Identificar e eliminar gargalos.

  • Aplicar ferramentas de melhoria contínua: Kaizen, 5W2H, SIPOC.
  • Priorizar automações e digitalizações: Onde possível.
  • Benefícios: Mais agilidade no atendimento ao cliente, redução de custos e liberação da equipe para tarefas de maior valor.

Definição e Acompanhamento de Indicadores (KPIs)

Medir o que realmente importa.

  • Definir KPIs para cada processo-chave: Prazo médio de carregamento, % de devoluções, acidentes por milhão de km.
  • Criar painéis visuais ou dashboards digitais: Para monitoramento rotineiro.
  • Benefícios: Detecção precoce de desvios, tomada de decisão baseada em fatos.

Integração entre Processos e Áreas

Eliminar ruídos de comunicação.

  • Promover a gestão por processos: Em vez de silos departamentais.
  • Usar sistemas integrados: Para alinhar informações.
  • Benefícios: Redução de erros de comunicação, fluidez nas entregas e maior colaboração.

Ciclo de Melhoria Contínua (PDCA)

Garantir a evolução constante.

  • Criar rotinas de revisão de processos: Mensal ou trimestral.
  • Envolver os times: Na identificação de falhas e oportunidades.
  • Benefícios: Evolução constante da operação e vantagem competitiva.

3. Tecnologia: O Catalisador da Mudança

A tecnologia, quando integrada à gestão de pessoas e processos, torna-se um ativo estratégico, gerando segurança, eficiência e produtividade de forma consistente.

Monitoramento Inteligente em Tempo Real (IoT + Telemetria + Câmeras)

Coleta de dados sobre condução, veículo e ambiente.

  • Aplicações: Câmeras de fadiga, sensores de velocidade e frenagem.
  • Resultados: Redução de acidentes, condução mais econômica, dados para feedbacks personalizados.

Gestão por Indicadores (Dashboards e BI Integrados)

Centralização de dados da operação.

  • Aplicações: Painéis de produtividade por motorista, alertas automáticos para desvios.
  • Resultados: Decisões baseadas em dados, atuação preventiva.

Análise Preditiva e Torres de Prevenção de Acidentes

Uso de IA para antecipar riscos.

  • Aplicações: Identificação de rotas críticas, horários perigosos, motoristas sob fadiga.
  • Resultados: Redução de sinistralidade, reação imediata a situações de risco.

Digitalização de Processos Operacionais

Eliminação de papel e processos manuais.

  • Aplicações: Checklists digitais, gestão de documentos e ocorrências via app.
  • Resultados: Menor tempo de ciclo operacional, maior rastreabilidade.

Plataforma Integrada de Comunicação com Motoristas

Canais digitais diretos para orientação e treinamento.

  • Aplicações: Apps de bordo com rota, checagens e indicadores individuais.
  • Resultados: Alinhamento diário, engajamento e formação contínua.

Gestão da Manutenção com Tecnologia Preditiva

Prever falhas mecânicas.

  • Aplicações: Agendamento automático de manutenções, alertas via sensores.
  • Resultados: Redução de quebras, maior disponibilidade da frota, redução de custos.

Integração entre Operação, SSMA, Manutenção e RH

Conexão de sistemas isolados.

  • Aplicações: Dados de telemetria alimentando planos de treinamento, alertas de SSMA gerando tratativas com RH.
  • Resultados: Eliminação de retrabalho, resposta rápida a desvios, melhoria contínua.

Conclusão: Segurança, Produtividade e Competitividade Andam Juntas

A tecnologia, aliada a uma boa gestão de pessoas e processos bem definidos, é a fórmula para transformar o custo dos acidentes em um diferencial competitivo.

A tecnologia não substitui o fator humano, mas potencializa a performance das pessoas e a eficácia dos processos, resultando em:

  • Mais entregas no prazo;
  • Menos sinistros e custos com seguros;
  • Melhor uso da frota e dos recursos;
  • Alta previsibilidade e confiabilidade para os embarcadores.

O desafio é grande, mas a oportunidade de ganhar competitividade e preservar vidas é ainda maior. Ao investir de forma estratégica nessas três frentes, o setor logístico brasileiro não só mitiga riscos e custos, mas se posiciona na vanguarda da eficiência, segurança e inovação.

O futuro da logística rodoviária passa pela segurança. É hora de agir!

Tibério Pereira
Consultor em Road Safety, SSMA e Logística | Redução de Sinistralidade e Custos Operacionais | Experiência em Esso, Cosan, Raízen | Implantação de Inovação em Grandes Embarcadores e Transportadoras


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