Motora AI

Tibério José de Brito Gonçalves Pereira

Distrações ao volante: o “segundo de descuido” que pode custar uma vida

As distrações ao volante são uma das principais causas de acidentes de trânsito — e sua influência está crescendo, especialmente com o uso cada vez mais frequente de tecnologias dentro dos veículos. São fatores críticos que reduzem drasticamente a atenção, o tempo de reação e a capacidade de tomada de decisão do condutor.

Uma cena real que ilustra o problema

Alguns anos atrás fui convidado para uma palestra em uma empresa sediada em Jundiaí. No caminho, seguia em um táxi pela Rodovia dos Bandeirantes, onde a velocidade regulamentar chega a 120 km/h. Diversos veículos nos ultrapassavam claramente acima disso: 130, 140 km/h (ou mais).

Mas o que me chamou atenção foi ver motoristas mexendo no celular durante a ultrapassagem — falando, ouvindo mensagens, digitando… Tudo isso a altíssimas velocidades.
O que leva uma pessoa a agir assim? Quais fatores pessoais, comportamentais e de ambiente influenciam esse tipo de comportamento?

Nos próximos parágrafos, convido você a uma análise crítica e prática desse cenário. Vamos juntos?

🔎 Por que a atenção ao volante diminui?

O estado de baixa atenção é resultado de uma combinação de fatores humanos, comportamentais e ambientais. Entre os principais:

1. Excesso de confiança e rotina
Motoristas experientes entram no “modo automático”, principalmente em trajetos repetitivos. Isso reduz o estado de alerta e favorece a distração.

2. Multitarefa e estímulos tecnológicos
A cultura da produtividade constante leva condutores a interagir com sistemas, resolver problemas ou responder mensagens enquanto dirigem.

3. Fadiga mental e física
Cansaço compromete a atenção sustentada e a velocidade de reação, provocando lapsos de consciência.

4. Ambiente do veículo e da via
Cabines desorganizadas, ruídos e excesso de informações visuais podem sobrecarregar os sentidos. Vias monótonas reduzem a vigilância.

5. Ausência de percepção de risco
Muitos motoristas não reconhecem o perigo real das distrações. A normalização de comportamentos inseguros (como usar o celular) reforça o problema.

📱 Tipos de distrações

As distrações podem ser classificadas em três tipos:

  • Visual: tirar os olhos da via (ex: olhar o celular, GPS, paisagem)
  • Manual: tirar as mãos do volante (ex: comer, ajustar o rádio)
  • Cognitiva: tirar o foco da mente da direção (ex: pensar em problemas, conversar intensamente)

📌 Uso do celular engloba os três tipos ao mesmo tempo, sendo uma das formas mais perigosas de distração.

🚧 Efeitos práticos na segurança viária

As distrações causam impactos diretos:

  • Aumento da distância de reação
  • Tomada de decisão ineficiente
  • Redução do controle do veículo

📜 O que diz a legislação?

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) trata as distrações como condutas infratoras:

  • Art. 252, VI: proíbe o uso de telefone celular (infração gravíssima, 7 pontos, R$ 293,47).
  • Parágrafo único: amplia para qualquer manuseio, mesmo sem ligação.
  • Art. 169: abrange distrações mais amplas, como comer, maquiar-se ou conversar, como infração leve.
  • Art. 302 a 304: responsabilizam penalmente se causarem acidentes.

Mesmo sem usar o termo “distração”, o CTB penaliza qualquer comportamento que tire o foco da direção.

🎯 Exemplos reais de distração ao volante

  1. Conversas intensas com caronas
  2. Filmar o que acontece no trânsito
  3. Receber alertas ou ouvir mensagens de voz
  4. Fazer ligações (com ou sem viva-voz)
  5. Ler ou digitar mensagens
  6. Gravar áudios
  7. Comer ou beber
  8. Objetos soltos na cabine
  9. Usar rádio PX em movimento

Todos esses comportamentos desviam olhos, mãos ou mente da direção, aumentando drasticamente o risco.

🛡️ O que as transportadoras podem (e devem) fazer?

Evitar acidentes vai muito além de punições ou treinamentos pontuais. É preciso atuar de forma sistêmica:

1. Seleção e qualificação de motoristas
• Critérios técnicos e comportamentais
• Avaliação psicológica e perfil de risco
• Integração com foco em cultura de segurança

2. Capacitação contínua
• Treinamentos periódicos e personalizados
• Simulações práticas
• Ações de educação comportamental

3. Monitoramento do comportamento
• Telemetria, câmeras, sensores
• Feedback estruturado e não punitivo
• Coaching e reforço positivo com motoristas monitores

4. Jornada e fadiga sob controle
• Pausas e descanso adequados
• Planejamento logístico seguro
• Apoio à saúde física e mental

5. Liderança e cultura de segurança
• Envolvimento real dos líderes
• DDS, campanhas e reconhecimento
• Comunicação clara e ambiente justo

Conclusão

Transportadoras que conseguem reduzir acidentes de forma consistente são aquelas que tratam segurança como um valor, não como custo.
A chave está em atuar antes que o risco vire acidente, integrando pessoas, processos e tecnologia.

É preciso fomentar uma mudança cultural, onde dirigir exige atenção plena — inclusive em trajetos curtos ou rotineiros.

Se esse conteúdo fez sentido para você, compartilhe com sua equipe, parceiros e lideranças.
Vamos fortalecer a cultura de atenção plena no volante e evitar que comportamentos inseguros se tornem tragédias anunciadas.

📩 Fique à vontade para comentar, marcar colegas ou me chamar inbox para conversarmos sobre soluções práticas para sua operação.

A segurança começa com consciência. E se reforça com ação.


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