Resumo: O transporte rodoviário de cargas, essencial para a economia brasileira, enfrenta altos índices de acidentes causados majoritariamente por falhas humanas, excesso de jornada, imprudência, uso de substâncias e distrações tecnológicas. O texto destaca que, para transformar esse cenário, é fundamental adotar uma abordagem estratégica baseada na prevenção e na gestão de riscos, com atenção especial aos quase-acidentes de alto potencial, que funcionam como alertas críticos antes de eventos graves. Monitorar, investigar e aprender com essas ocorrências é uma forma eficaz de preservar vidas, reduzir custos operacionais e fortalecer uma cultura de segurança ativa e sustentável nas empresas do setor.
Os acidentes no transporte rodoviário de cargas são eventos com impacto direto e significativo na economia, na infraestrutura e, mais importante, na vida das pessoas. Para compreendermos a complexidade do problema, é necessário partir de uma abordagem conceitual, explorando o que são os acidentes, sua relação com a segurança do trabalho e como eles se manifestam no setor de transporte de cargas.
O Que São Acidentes? Uma Visão Conceitual
De forma geral, um acidente é definido como um evento inesperado e indesejado, que resulta em lesões humanas, danos materiais ou impactos ao meio ambiente. No contexto da segurança do trabalho, os acidentes de trabalho são aqueles que ocorrem durante a jornada laboral ou em decorrência dela e geram algum tipo de prejuízo ao trabalhador ou à empresa. Essa definição pode ser encontrada na Lei nº 8.213/91, que rege os benefícios previdenciários no Brasil.
Os acidentes são classificados em diferentes categorias:
- Acidentes Típicos: Resultam diretamente do trabalho desempenhado, como um motorista que sofre uma colisão durante a entrega de mercadorias.
- Acidentes de Trajeto: Ocorrências no trajeto entre a residência do colaborador e o local de trabalho.
- Doenças Ocupacionais: Mesmo não sendo acidentes em si, são frequentemente equiparadas, como no caso de problemas decorrentes das condições ergonômicas ou psicológicas que afetam motoristas.
No transporte rodoviário, os acidentes ocupacionais se destacam devido à natureza do trabalho, que envolve longas jornadas, exposição a riscos mecânicos e ambientais, além das tensões provenientes da pressão por prazos e produtividade.
Acidentes no Contexto Rodoviário
Os números não deixam dúvidas sobre a gravidade do problema. De acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), 90% dos acidentes rodoviários têm como fator principal falhas humanas, enquanto questões como infraestrutura e manutenção de veículos correspondem à porcentagem restante. Em um país como o Brasil, onde o modal rodoviário concentra cerca de 65% do total do transporte de cargas, a relevância do tema vai muito além da segurança individual – é também uma questão estratégica para a economia.
Abaixo link para um dos mais recentes e graves acidentes envolvendo caminhão e ônibus no país.
Dinâmicas dos Acidentes no Transporte Rodoviário de Cargas
Os acidentes rodoviários não seguem um padrão único. Eles costumam ocorrer devido à interação entre diferentes fatores de risco. A seguir, exploramos as principais dinâmicas que desencadeiam esses eventos:
Fatores Organizacionais
As práticas organizacionais desempenham um papel crucial na segurança. Empresas que negligenciam a gestão de risco acabam aumentando a probabilidade de incidentes. Exemplos comuns incluem:
- Excesso de jornada de trabalho, levando motoristas à fadiga. A Lei do Motorista (Lei nº 13.103/2015) prevê pausas obrigatórias e limite de horas trabalhadas, mas muitas empresas ainda operam sem cumprir essas normas.
- Políticas ineficientes de manutenção preventiva, resultando em veículos com pneus lisos, falhas nos freios e outros problemas técnicos.
- Sobrecarregamento de caminhões, que compromete a estabilidade do veículo e aumenta o risco de tombamentos.
Fatores Humanos
Além da organização, o comportamento humano é decisivo nos acidentes:
- Imprudência: Muitos motoristas desrespeitam as regras de trânsito por pressa, competição por prazos ou falta de percepção dos riscos, adotando práticas perigosas como excesso de velocidade e ultrapassagens em locais proibidos.
- Uso de substâncias psicoativas (álcool ou drogas): O consumo de álcool ou drogas, como anfetaminas usadas para manter o estado de alerta, tem um impacto devastador no reflexo e no tempo de resposta dos motoristas. Estima-se que em torno de 6% dos acidentes rodoviários envolvam motoristas sob o efeito de substâncias químicas, de acordo com o ONSV.
- Distratores tecnológicos e uso de celular: A distração ao volante causada por smartphones é uma das maiores ameaças à segurança atual. Responder mensagens, manipular aplicativos ou mesmo visualizar GPS desvia a atenção do motorista de situações críticas, aumentando o risco de colisões. Estudos do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) indicam que o uso do celular aumenta em até 23 vezes o risco de um acidente.
Esses fatores humanos, muitas vezes relacionados a atitudes conscientes, dimensionam a gravidade do problema. A combinação de imprudência, substâncias químicas e distração coloca tanto motoristas quanto terceiros em situações de alto risco.
Fatores Externos
Embora sejam menos controláveis, fatores externos também contribuem para os acidentes:
- Clima adverso, como chuva intensa ou neblina, reduz a visibilidade e aumenta os riscos nas estradas.
- Condições precárias das rodovias, especialmente em trechos onde há buracos, sinalização deficiente ou falta de iluminação.
- Trânsito intenso e ações de terceiros, que nem sempre possuem a capacitação ou cuidado adequado com os usuários das rodovias.
Tipos de Acidentes no Setor de Transportes
Os acidentes podem variar em natureza e gravidade, mas costumam ser categorizados em:
- Lesões Pessoais: Afetam diretamente motoristas, passageiros ou terceiros. Podem ser graves (fatalidades ou incapacidade permanente) ou leves (escoriações, por exemplo).
- Danos Materiais: Envolvem avarias nos veículos, equipamentos ou carga transportada, além de ocasionar custos indiretos, como multas ou atrasos logísticos.
Estima-se que para cada real gasto diretamente em acidentes, empresas desembolsam de 3 a 5 vezes mais em consequências indiretas, incluindo perda de produtividade e impacto reputacional.
Locais e Turnos Mais Críticos
Rodovias Mais Perigosas no Brasil
De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), algumas rodovias brasileiras, como a BR-381 (MG) e a BR-116 (SP/MG), registram altos índices de acidentes. A infraestrutura deficiente e o tráfego intenso de caminhões nestes trechos contribuem para o alto risco.
Turnos de Alto Risco
Acidentes noturnos são especialmente recorrentes, devido a:
- Redução da visibilidade para motoristas.
- Fadiga acumulada após o turno diurno.
- Maior incidência de imprudência (ex.: uso de drogas por motoristas que tentam superar o cansaço).
Quase-Acidentes ("Near-Misses") – Oportunidades Para Prevenção
Enquanto os acidentes chamam atenção pelos danos causados, os quase-acidentes são muitas vezes ignorados. No entanto, eles oferecem uma oportunidade importante de aprendizado.
- Quase-acidente de Alto Potencial: Um evento que, se concretizado, teria consequências catastróficas. Exemplo: um motorista parado no sinal com uma moto em seu ponto cego e momentos antes de seguir adiante é alertado por outro motorista próximo.
- Quase-acidente de Baixo Potencial: Eventos com menor gravidade, como um escorregão ao descer da cabine, sem qualquer tipo de lesão.
Por Que Monitorar os Quase-Acidentes?
Os quase-acidentes, também conhecidos como near-misses, são eventos em que um acidente por pouco não se concretizou. Embora não causem danos diretos, eles representam importantes sinais de alerta. Estudos mostram que para cada acidente grave, várias ocorrências menores ou quase-acidentes já aconteceram antes, indicando falhas em processos, comportamentos ou condições que precisam de atenção.
No entanto, nem todos os quase-acidentes têm o mesmo peso ou grau de urgência para análise. É essencial priorizar os quase-acidentes de alto potencial, aqueles que, caso tivessem se consolidado, poderiam resultar em consequências graves, como fatalidades, danos ambientais significativos ou perdas financeiras severas. Essas ocorrências, por serem em menor número, tornam-se mais viáveis e estratégicas para análise detalhada.
Além disso, os aprendizados obtidos ao investigar quase-acidentes de alto potencial podem ter um impacto substancial na preservação de vidas. Exemplos incluem situações como:
- Um caminhão que perde o controle em uma descida, mas o motorista consegue reagir a tempo, evitando um tombamento.
- Uma falha técnica detectada no sistema de freios antes de uma viagem, que, se não corrigida, poderia causar um acidente grave.
Ao priorizar a investigação desse tipo de evento, as empresas conseguem identificar “brechas” críticas em seus processos ou comportamentos que podem levar a tragédias, corrigindo-as antes que se concretizem. Isso reforça não apenas a segurança, mas também cria uma cultura organizacional proativa, em que os empregados sentem-se seguros para relatar riscos, sabendo que suas observações resultam em melhorias reais para toda a equipe.
Conclusão: A Importância da Prevenção e da Gestão de Riscos
Compreender como os acidentes acontecem é o primeiro passo para preveni-los. Os fatores organizacionais, humanos e externos se entrelaçam em uma dinâmica complexa, que exige atenção detalhada e ações imediatas. Para empresários e gestores de SSMA, monitorar condições de trabalho, treinar equipes e implementar políticas eficazes são pilares fundamentais para transformar indicadores negativos em excelência operacional.
👉 Você acredita que compreender as dinâmicas dos acidentes — com foco em fatores humanos, organizacionais e quase-acidentes — e transformar esses aprendizados em ações concretas de prevenção é o caminho mais urgente e estratégico para proteger vidas, reduzir sinistros e garantir a sustentabilidade no transporte rodoviário de cargas?
Deixe sua opinião nos comentários! Sua visão pode inspirar outras empresas a fortalecerem suas práticas de gestão de risco, adotando uma cultura ativa de segurança e priorizando a investigação dos quase-acidentes como ferramentas essenciais para a excelência operacional e a preservação do patrimônio humano e material nas estradas.
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Artigo escrito por Tibério Pereira – Consultor em Road Safety, SSMA e Logística | Redução de Sinistralidade e Custos Operacionais | Experiência em Esso, Cosan, Raízen | Implantação de Inovação em Grandes Embarcadores e Transportadora.
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